domingo, abril 24, 2011

Abril ou a morte do futuro

"Dia de Luta pelo Futuro" ou "Dia de Luto pelo Futuro"? A decisão depende da nossa acção ou inacção. Acção é luta, inacção é luto (parar é morrer, costuma dizer o bom povo). Vamos carpir por aqui a morte do futuro ou vamos lutar por ele? Vamos permitir que decidam o nosso destino por nós, ou vamos tomar o nosso destino nas nossas mãos?

Vamos deixar morrer Abril?



***

Aquilo que se preparam para fazer ao bom povo português é um assalto de proporções dantescas. Essa ajuda, tão propalada, não é ajuda, coisa nenhuma.

Todo o dinheiro que farão entrar, sairá. Servirá para pagar a dívida aos bancos alemães e a outros bancos credores. Nem um cêntimo será gasto em solo pátrio. Por cá só a austeridade permanecerá e, através dela, o roubo, porque o dinheiro que farão entrar (e acto contínuo, sair), também terá de ser pago. E adivinhe quem vai pagar.

Se as dívidas devem ser pagas, que o sejam por quem as contraiu. Mas não vai ser assim. Os mais pobres, os da base, os trabalhadores, é que vão pagar, com o suor do seu trabalho. Mais do que a dívida, os juros a pagar por ela são criminosos e especulativos, por outras palavras, uma exploração e um assalto.

Os contribuintes portugueses, directamente endividados ou não, hipotecários ou não, pobres e da classe média, irão sentir na pele a austeridade. Na verdade, já estão a senti-la.

Os ricos, como sempre, manterão o fruto do seu roubo e do seu egoísmo nos paraísos fiscais distantes. Naqueles em que os grandes governantes do mundo e instituições mundiais, que deveriam regular os fluxos de capital no mundo, não ousam tocar. É assim que os ricos e os especuladores se furtam ao pagamento dos impostos que lhes são devidos, deixando a austeridade para os demais.

Em última análise seremos nós que iremos pagar. Já estamos a pagar. O bom povo português.

sábado, abril 23, 2011

domingo, abril 17, 2011

Nobre fala na TV

Sangue Derramado

Não quero vê-lo!


Dizei à lua que venha,

que não quero ver o sangue

de Inácio sobre a areia.


Não quero vê-lo!


A lua de par em par.

Cavalo de nuvens quietas,

e a praça escura do sonho

com salgueiros nas barreiras.

Não quero vê-lo!

Que a lembrança se me queima.

Ide avisar os jasmins

com sua alvura pequena!


Não quero vê-lo!


A vaca do velho mundo

passa a sua triste língua

sobre um focinho de sangue

derramado sobre a areia,

e os toiros de Guisando,

quase morte e quase pedra,

mugiram como dois séculos

fartos de pisar a terra.

Não.

Não quero vê-lo!


Pelos degraus sobe Inácio

com a morte inteira às costas.

A madrugada procura

mas já não há madrugada.

Busca seu perfil seguro,

e o sonho o desorienta.

Busca seu corpo formoso

e encontra o sangue aberto.

Não me digam para o ver!

Não quero sentir o jorro

cada vez com menos força;

esse jorro que ilumina

galerias e se derrama

na bombazina e no coiro

duma multidão sedenta.

Quem me grita que me assome?

Não me digam para o ver!


Não se cerraram seus olhos

quando viu os cornos de perto,

porém, terríveis, as mães

levantaram a cabeça.

Nas ganadarias houve

um ar de vozes secretas:

gritam a toiros celestes

maiorais de pálida névoa.


Não houve príncipe em Sevilha

que lhe possam comparar,

nem espada como a sua,

nem coração tão deveras.

Como um rio de leões

a força maravilhosa,

e como torso de mármore

a desenhada prudência.

Ar de Roma andaluza

doirava a sua cabeça,

onde o seu rio era um nardo

de sal e de inteligência.

E que toureiro na praça!

Que bom serrano na serra!

Que brado com as espigas!

Que duro com as esporas!

Que terno com o orvalho!

Que deslumbrante na feira!

Que tremendo com as últimas

bandarilhas só de treva!


Porém já dorme sem fim.

Já os musgos e a erva

abrem com dedos seguros

a flor da sua caveira.

E seu sangue já vem cantando:

cantando por charnecas e lezírias,

resvalando por cornos transidos,

vacilando sem alma pela névoa,

e tropeçando em milhentas patas,

como longa, escura, triste língua,

para formar um charco de agonia

junto ao Guadalquivir das estrelas.

Oh branco muro de Espanha!

Oh negro toiro de pena!

Oh sangue duro de Inácio,

rouxinol de suas veias!

Não!

Não quero vê-lo!

Que não há cálice que contenha,

que não há andorinhas que o bebam,

que não há neve de luz que o arrefeça,

não há canto nem dilúvio de açucenas,

não há cristal para o cobrir de prata.

Não!


Eu não quero vê-lo!

Garcia Lorca

(traduzido pelo saudoso poeta, Eugénio de Andrade)

(*) - E que Inácio nos perdoe. Ainda pensámos substituir “Inácio” por “Nobre”. Mas não. Nunca, nunca iremos mutilar um poema. Muito menos este.

***

La sangre derramada

¡Que no quiero verla!

Dile a la luna que venga,
que no quiero ver la sangre
de Ignacio sobre la arena.

¡Que no quiero verla!

La luna de par en par,
caballo de nubes quietas,
y la plaza gris del sueño
con sauces en las barreras

¡Que no quiero verla¡
Que mi recuerdo se quema.
¡Avisad a los jazmines
con su blancura pequeña!

¡Que no quiero verla!

La vaca del viejo mundo
pasaba su triste lengua
sobre un hocico de sangres
derramadas en la arena,
y los toros de Guisando,
casi muerte y casi piedra,
mugieron como dos siglos
hartos de pisar la tierra.
No.
¡Que no quiero verla!

Por las gradas sube Ignacio
con toda su muerte a cuestas.
Buscaba el amanecer,
y el amanecer no era.
Busca su perfil seguro,
y el sueño lo desorienta.
Buscaba su hermoso cuerpo
y encontró su sangre abierta.
¡No me digáis que la vea!
No quiero sentir el chorro
cada vez con menos fuerza;
ese chorro que ilumina
los tendidos y se vuelca
sobre la pana y el cuero
de muchedumbre sedienta.
¡Quién me grita que me asome!
¡No me digáis que la vea!

No se cerraron sus ojos
cuando vio los cuernos cerca,
pero las madres terribles
levantaron la cabeza.
Y a través de las ganaderías,
hubo un aire de voces secretas
que gritaban a toros celestes,
mayorales de pálida niebla.
No hubo príncipe en Sevilla
que comparársele pueda,
ni espada como su espada,
ni corazón tan de veras.
Como un rio de leones
su maravillosa fuerza,
y como un torso de mármol
su dibujada prudencia.
Aire de Roma andaluza
le doraba la cabeza
donde su risa era un nardo
de sal y de inteligencia.
¡Qué gran torero en la plaza!
¡Qué gran serrano en la sierra!
¡Qué blando con las espigas!
¡Qué duro con las espuelas!
¡Qué tierno con el rocío!
¡Qué deslumbrante en la feria!
¡Qué tremendo con las últimas
banderillas de tiniebla!

Pero ya duerme sin fin.
Ya los musgos y la hierba
abren con dedos seguros
la flor de su calavera.
Y su sangre ya viene cantando:
cantando por marismas y praderas,
resbalando por cuernos ateridos
vacilando sin alma por la niebla,
tropezando con miles de pezuñas
como una larga, oscura, triste lengua,
para formar un charco de agonía
junto al Guadalquivir de las estrellas.
¡Oh blanco muro de España!
¡Oh negro toro de pena!
¡Oh sangre dura de Ignacio!
¡Oh ruiseñor de sus venas!
No.
¡Que no quiero verla!
Que no hay cáliz que la contenga,
que no hay golondrinas que se la beban,
no hay escarcha de luz que la enfríe,
no hay canto ni diluvio de azucenas,
no hay cristal que la cubra de plata.
No.

¡¡Yo no quiero verla!!

A globalização eleitoral finlandesa

O futuro do nosso país decide-se hoje, nas urnas da Finlândia. Com efeito, um voto colocado numa urna na longínqua Finlândia pode gerar uma tempestade conjuntural aqui em Portugal.

É irónico: parece que são mais relevantes para o futuro do nosso país, os votos dos eleitores finlandeses do que os votos dos eleitores portugueses no próximo dia 5 de Junho.

sexta-feira, abril 15, 2011

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Sólon e as dívidas de Atenas


Conforme nos conta Plutarco (46 – 120 d.C.) na biografia de Sólon, no longínquo século VII a. C., Atenas estava mergulhada numa crise política, económica e social parecida com a actual. Sólon, tentou resolvê-la, com relativo sucesso: fez aquilo a que hoje poderíamos chamar uma renegociação da dívida e uma desvalorização da moeda (*).

As crises de endividamento e a usura dos ricos sobre o resto da população são velhas como o mundo.

***

Excerto da biografia de Sólon, escrita por Plutarco (os sublinhados são nossos):

«The Athenians, now the Cylonian sedition was over and the polluted gone into banishment fell into their old quarrels about the government, there being as many different parties as there were diversities in the country. The Hill quarter favoured democracy, the Plain, oligarchy, and those that lived by the Seaside stood for a mixed sort of government, and so hindered either of the other parties from prevailing. And the disparity of fortune between the rich and the poor, at that time, also reached its height; so that the city seemed to be in a truly dangerous condition, and no other means for freeing it from disturbances and settling it to be possible but a despotic power. All the people were indebted to the rich; and either they tilled their land for their creditors, paying them a sixth part of the increase, and were, therefore, called Hectemorii and Thetes, or else they engaged their body for the debt, and might be seized, and either sent into slavery at home, or sold to strangers; some (for no law forbade it) were forced to sell their children, or fly their country to avoid the cruelty of their creditors; but the most part and the bravest of them began to combine together and encourage one another to stand to it, to choose a leader, to liberate the condemned debtors, divide the land, and change the government.
(…)

For the first thing which he settled was, that what debts remained should be forgiven, and no man, for the future, should engage the body of his debtor for security. Though some, as Androtion, affirm that the debts were not cancelled, but the interest only lessened, which sufficiently pleased the people; so that they named this benefit the Seisacthea, together with the enlarging their measures and raising the value of their money; for he made a pound, which before passed for seventy-three drachmas, go for a hundred; so that, though the number of pieces in the payment was equal, the value was less; which proved a considerable benefit to those that were to discharge great debts, and no loss to the creditors. But most agree that it was the taking off the debts that was called Seisacthea, which is confirmed by some places in his poem, where he takes honour to himself, that- 

"The mortgage-stones that covered her, by me 
Removed,- the land that was a slave is free: that some who had been seized for their debts he had brought back from other countries, where-
"-so far their lot to roam,

They had forgot the language of their home; and some he had set at liberty-
"Who here in shameful servitude were held." »

Fonte: http://classics.mit.edu/Plutarch/solon.html
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(*) - Fez equivaler a mina, que antes correspondia a setenta e três dracmas, a cem dracmas.

quarta-feira, abril 13, 2011

Once In A Lifetime*

«Tu não podes apontar-me alguém que saiba de que modo começou a querer aquilo que quer. E porquê? Porque o comum das pessoas não é levada pela reflexão, mas arrastada por impulsos. A fortuna cai sobre nós não menos vezes do que nós caímos sobre ela. A indignidade não está em "irmos", mas em "sermos levados", em perguntarmos de súbito, surpreendidos, no meio de um turbilhão de acontecimentos: "Mas como é que eu vim parar aqui?"»

Séneca, Cartas a Lucílio, Fundação Calouste Gulbenkian, 2007. Pág. 133
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(*) - Título de música de 1981, da banda Talking Heads, cujos primeiros versos rezam assim:

You may find yourself living in a shotgun shack
And you may find yourself in another part of the world
And you may find yourself behind the wheel of a large automobile
You may find yourself in a beautiful house, with a beautiful wife
You may ask yourself, "Well, how did I get here?"

terça-feira, abril 12, 2011

Milagre! Sismo e tsunami deixam santinha intacta.

A vending machine stands intact in the area devastated by the March 11 tsunami in Ishinomaki, Miyagi Prefecture, northern Japan Saturday, April 9, 2011.


domingo, abril 10, 2011

Chamaeleo chamaeleon

Chamaeleo chamaeleon, avistamento nas dunas, junto à mata de Vila Real de Santo António, a 6 de Abril

PS - Não, não é o doutor Fernando Nobre.

sábado, abril 09, 2011

Abidjam, 2011

Abidjam, 2011, Combatentes pro-Ouattara lançam o ataque final ao Hotel Golf

Já não brandem azagaias, os soldados búfalo. As suas armas são agora AK 47, lança rockets e punhais. Tudo fabricado em países distantes, “amigos da paz”. Também as suas fardas e as pick up onde se fazem deslocar são doutras terras. Maldita África que não pára de sacrificar os seus filhos. No seu olhar moram a morte e a esperança. Estranha combinação.

Estes homens são carne para canhão.

A esperança média de vida na Costa do Marfim é de 58,4 anos (dados do Relatório de Desenvolvimento Humano 2010, PNUD).

quinta-feira, abril 07, 2011

Ai, ai, ai, o FMI

Ora como aí vem o FMI mais o FEEF e etc. e os portugueses estão deveras preocupados, como se pode atestar pela debandada pascal para os hotéis do Algarve, repõe-se aqui, mais uma vez, o postal alusivo ao estado de espírito dos portugueses, sempre marcado pela extrema apreensão face ao futuro próximo. Cá vai:

Pieter Bruegel "o Velho", A Dança do Casamento (c. 1566)

O País naufraga num profundo mar de desespero


Aqui.

quarta-feira, abril 06, 2011

Mendigos

Portugal bettelt um EU-Geld


"bettelt" = implorar, mendigar.

Quem falou em PRESTÍGIO nacional? Sr. Presidente? Senhor Primeiro-ministro? Disse PRESTÍGIO nacional?

Os mercados venceram! Portugal perdeu.

O FMI vem aí!

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