terça-feira, maio 28, 2013

Platão, a preço de banana


O Górgias de Platão foi uma das aquisições recentes por este bibliófilo. O culpado foi um tal de Frederico Lourenço que escreveu algures na sua Grécia Revisitada, que “o Górgias de Platão está para a obra de Platão como a sonata “Apassionata” para a de Beethoven”.

Mas o classicista diz mais: “O leitor moderno do Górgias está mais apto a compreender as razões profundas da desconfiança de Platão relativamente à classe política, uma vez que hoje em dia estamos mais alertados que nunca para a ‘retórica’ oca da adulação das massas (para utilizar um conceito típico do Górgias), que está na base das manobras eleitorais, por demais conhecidas das sociedades “democráticas” para precisarem aqui de serem explicitadas.” (Frederico Lourenço, Grécia Revisitada, Livros Cotovia, 2004).

E mais adiante: “Basta pensarmos na história recente do século XX para darmos razão à forma indignada como Platão rejeita a retórica: uma arte que não é uma arte, sem qualidades definidas, pouco melhor que uma versão verbal e particularmente insalubre da haute cuisine – para retomar a própria analogia socrática.” (Frederico Lourenço, Grécia Revisitada, Livros Cotovia, 2004).

E pronto, lá comprei o Górgias, na Feira do Livro da FNAC, a preço de banana. Uma obra imorredoura, um monumento, por apenas 7,80 €.

E assim, vivam os classicistas, pelas suas preciosas indicações e traduções! E viva a Feira do Livro! (Estranho: no Porto critica-se o centralismo de Lisboa, mas abandona-se a Feira do Livro ao centralismo da capital. Parece que há por lá quem saque da pistola, sempre que ouve falar de cultura, ou estarei a ser injusto?)

Fica a capa da dita obra:

Platão, Górgias. Tradução de Manuel de Oliveira Pulquério, Lisboa
Edições 70, 1992.

PS - Mas o que estão as Edições 70 à espera para publicarem os Livros II, VII e IX da História de Heródoto?

domingo, maio 26, 2013

Graffitis

Andam lunáticos à solta pela cidade nocturna com pincéis e baldes de tinta negra. Nas noites de lua cheia ou outras luas, atacam os muros com frases indecifráveis ou que se dão a múltiplas interpretações e significações. Frases para fazer pensar, a quem gosta de pensar, quando vagueia pelos passeios dos subúrbios e das cidades. Frases para flâneurs e voyeurs.

Eis algumas frases, escritas em antigos e verdadeiros graffiti:

TIRO NO ESCURO

O que significa isto? Um dito racista? Um tiro num africano? Não. Uma aposta incerta, um “tiro no escuro”? Um passo cego que pode conduzir ao abismo? Um estampido ecoando na noite? Uma bala perdida que, caprichosamente, pode atingir qualquer um, qualquer inocente? Mas um tiro não tem que significar necessariamente um estampido. Há quem use silenciador. Ou ainda, será alguém que furta, que tira, a coberto da noite, e o afirma? O “escuro” oculta, mas o “tiro”, ouvido, revela algo. Remete para o perigo de ser alvejado. Remete para a ameaça de ser atingido por um raio, vindo sabe-se lá de onde. Quando se recebe uma chapada na escuridão, ficamos sem saber a quem acometer. Ficamos indefesos ante a chapada oculta, inesperada. Na escuridão estamos cegos.

***

Outra frase, esta lida lá para os lados das Amoreiras:

ENTRE O DIZER E O FAZER, HÁ MUITO QUE FAZER.

Esta tem o seu interesse. Na verdade dizer já é fazer, ou não é assim? Quando se diz, já se actua. Dizer, implica um comportamento observável, uma acção: escrever, falar, dizer…Mas quem a escreveu deve ser alguém de acção, que paradoxalmente diz-nos primeiro que, “entre o dizer e o fazer, há muito que fazer”, e di-lo escrevendo. Fá-lo escrevendo. Fá-lo dizendo.

Mas no caso, parece querer fazer-se uma distinção entre a palavra e a acção. Mas fazer o quê? Uma revolução? Uma reforma? Há muito que fazer para preparar uma revolução. Dizer, pode manifestar uma intenção, mas da intenção à acção, há muito que fazer. O nosso povo está prenhe de intenções, mas o primeiro a atirar a pedra levantada da calçada é quase sempre um estrangeiro profissional em motins.

***

A MAIOR ARMA DO OPRESSOR É A CABEÇA DO OPRIMIDO.

Esta é decerto, coisa de marxistas. Os termos “opressor” e “oprimido” fazem parte desse discurso dialéctico. Desde a antiguidade, os escravos, os servos e os proletários são, segundo Marx, os oprimidos deste mundo. O discurso pós-marxista detectou outros oprimidos que atravessam as classes sociais definidas por Marx, e com isso pretende tirar validade à divisão marxista das sociedades em classes. Prefere falar de grupos identitários. E que oprimidos foram esses, que o discurso marxista não relevou? As mulheres, os homossexuais, os segregados devido à etnia ou à raça, etc. Porém, um marxista pode contestar isto. Afinal, a classe dos escravos não contém as escravas, só para dar o exemplo? E a dos servos, as servas? E a dos proletários, as proletárias? Mas a verdade é que as mulheres foram segregadas e oprimidas, independentemente da classe social a que pertenciam. Só assim se justifica a sua ausência da história do pensamento, para não dizer da história da arte, e, salvo raras excepções (algumas rainhas que, não estando à sombra de nenhum rei protagonizaram os destinos do seu povo) de toda a história. É caso para dizer que das mulheres não reza a história. A História tem sido uma história de homens. Não nos admiremos portanto com o surgimento dos Estudos de Género na actual Universidade. As mulheres chegaram à Academia quase 2500 anos depois dela ter sido fundada por Platão.


A Escola de Atenas, de Rafael. 
(Onde estão as mulheres? 
Temos duas estátuas marmóreas a enfeitar o friso.)


Mas em relação ao dito de que “a maior arma do opressor é a cabeça do oprimido”, não tenhamos dúvida que assim é. Já nos referimos a este dito aqui.

***


O MORAIS FOI ÀS PUTAS
(escrito numa parede, em Almada)


Ai o Morais, o Morais, que anda por aí a pregar a moral e os bons costumes. Afinal o Morais “foi às putas”. Esta bem poderia ter sido escrita por um antigo cínico, por um Diógenes dos nossos tempos. Uma manifestação contra os falsos pregadores, os que apregoam uma coisa e fazem outra. É o que há mais por aí. É como a história do frei Tomás e do “faz o que ele diz, não faças o que ele faz”. Ou então faz e depois não te queixes. Esta frase do Morais é um tratado kínico.

[Este post irá sendo acrescentado com mais ditos escritos nas paredes urbanas e suburbanas, por aí lidos nas deambulações urbanas e suburbanas]

sábado, maio 25, 2013

Um muro no caminho


Um obstáculo, uma barreira,
Um problema, um desafio.
Uma questão de semântica.
Um murro no caminho.
Um muro no caminho.

sábado, maio 18, 2013

Hoje, à beira do mar



Uma longa caminhada à beira do mar, entre a Praia Verde e Cacela-a-Velha, aproveitando a baixa-mar. Pelo caminho, um torneio de pesca na Manta Rota onde o peixe não medrava e um falso zéfiro não convidava a permanências demoradas. No regresso, já os pescadores tinham rumado a costas mais aprazíveis, ou, o mais provável, aos bares mais próximos.

Na triste praia, não se avistaram “les filles du bord de mer”.


Dois anos de troika, troikistas e mais troikistas que a própria troika

Eis apenas dois indicadores económicos cuja evolução recente é reveladora do bom sucesso das políticas que até aqui têm sido fielmente seguidas por este "bom aluno", que é o Governo Português.

Evolução da Taxa de Desemprego
Fonte: INE, 2013


Variação Trimestral do PIB Português
Fonte: INE, 2013

Como se vê, está tudo a correr bem, estamos no bom caminho e a retoma é já a seguir. Venham mais dois anos destes, que precisamos de mais anos assim. Abençoada troika e mais as suas abençoadas tranches (mas onde é que estão as tranches, que nunca ninguém as vê?). E abençoado regresso aos mercados. Assim podemos continuar a endividar-nos alegremente. Que paguem os que vêm depois.

Está visto que estamos ante um milagre da Nossa Senhora de Fátima. Oremos.

domingo, maio 12, 2013

Consciência e existência


Não é a consciência dos homens que determina a sua existência, pelo contrário é a sua existência social que determina a sua consciência.

Karl Marx (1859)




Não! Não existem por aqui palas ideológicas para ler e interpretar a realidade. A realidade é demasiado travessa para se conformar às ideologias inventadas pelos homens. Mas que nisto e em muitas outras coisas Marx tinha razão, lá isso tinha.

Noutro lugar* lemos uma referência à sua famosa máxima de que “as pessoas fazem a sua própria história, mas não sob as condições que elas mesmas escolhem” (Marx, 1852, citado por Herod, 2011).

sábado, maio 11, 2013

Néscios

Titula Rui Ramos a sua crónica no Expresso: “O antitroikismo dos néscios”. Como se os néscios não fossem os troikistas. E mais néscios ainda, os mais troikistas que a própria troika.


***
P.S.


No mesmo artigo, Rui Ramos continua a basear-se no habitual erro de análise económica que é o de comparar aquilo que não é comparável: uma desvalorização monetária dos anos 80 do século XX, com o inaudito "ajustamento" da economia portuguesa no presente.

Os economistas tiveram a "brilhante" ideia de "ajustar" a economia portuguesa, uma vez que não se pode realizar uma desvalorização competitiva da moeda (facto que representaria um abaixamento dos salários reais, sem que o mercado interno fosse beliscado). Julgavam eles, que o mesmo efeito poderia ser obtido, atacando diretamente os salários e reduzindo o rendimento disponível das famílias. Esqueceram-se contudo das concomitâncias do processo.

Desvalorizar a moeda e "ajustar" a economia, como agora se está a fazer, trata-se de processos distintos nos seus efeitos, e os resultados estão à vista de todos.

Por muito que a economia portuguesa seja uma economia pequena e aberta, por muito que se viva agora na Era global da economia globalizada, o que é certo é que o mercado interno nacional era o viveiro de milhares de pequenas empresas, agora falidas, afectadas pelas políticas económicas e financeiras experimentais de um bando de neoliberais. Ainda por cima, néscios.

Viviane viveu.

Viviane Forrester (1925-2013)

Eis-nos ainda imersos no horror económico. Cada vez mais profundo, na Era de todas as incertezas, desbaratada que foi toda a confiança. O bom povo, desempregado e envergonhado, ou sai do país, ou da vida (houve quem se suicidasse, alguns levando os filhos), ou então, resignado, torna-se presa de uma exploração que é, a cada dia que passa, mais insuportável. Paralisante até. Enquanto isso, um banqueiro, um macho alfa da nossa Era, profere cinicamente, referindo-se ao povo, “ai aguenta, aguenta”, ao mesmo tempo que os seus conterrâneos definham…O horror económico é isto. É isto e muito mais...

Viviane morreu viveu. Fica a sua obra e, infelizmente, o horror económico, que ela tão bem retratou.

***

«Brincadeiras engenhosas! Como a de um governo anterior que, meses atrás, cantava vitória, delirante, impando: diminuição do desemprego? Não, de facto. Pelo contrário, aumentara – mais lentamente, contudo, do que no ano transacto!
Mas enquanto assim se diverte o pagode, milhões de pessoas, e refiro-me mesmo a pessoas, postas entre parênteses, têm direito, por um período indefinido, talvez sem limite que não a própria morte, à miséria ou à sua ameaça mais ou menos próxima, e muitas vezes à perda de um tecto, à de toda a consideração social e mesmo a toda a autoconsideração. Ao drama das identidades precárias ou naufragadas. Ao mais vergonhoso dos sentimentos: a vergonha. Visto que cada um se julga (é encorajado a julgar-se) senhor falido do seu próprio destino, quando não passou de um número metido por acaso numa estatística.
(…)
A ignomínia desencoraja qualquer reacção da sua parte que não seja uma resignação dolorida.
Porque nada enfraquece ou paralisa mais do que a vergonha. Ela altera radicalmente, deixa sem recurso, permite qualquer subjugação, reduz os que dela sofrem à condição de presas. Daí o interesse dos poderes em servir-se dela e impô-la; permite legislar sem oposição e transgredir a lei sem receio de protestos. É ela que cria o embaraço, impede qualquer resistência, faz renunciar a todas as clarificações, a todas as desmistificações, a qualquer confronto da situação. Desvia de tudo o que possibilitaria a recusa da ignomínia e a exigência de uma responsabilização política do presente. É ela que permite também a exploração dessa resignação, assim como a do pânico virulento para cuja criação contribui.
A vergonha devia ter cotação na Bolsa; é um elemento importante do lucro

Viviane Forrester, O Horror Económico, Terramar, 1997, pp. 10-13.

Em destaque: Reis Novais, sobre a mobilidade especial. Uma barbaridade!



Reis Novais fala-nos de um retrocesso civilizacional.

Em suma, o que se propõe para os funcionários públicos e a forma indigna como são tratados pelos que dirigem o país, ultrapassa as raias da bestialidade! Uma barbaridade, diz ele.

Já inventaram o "salário zero". Só lhes falta inventar o "salário abaixo de zero".
As bestas quadradas.

Isto está mesmo a pedir uma bernarda!

segunda-feira, maio 06, 2013

O Professor Adelino Maltez, hoje, na Antena 1


Ouvido pela manhã, na Antena 1:

«A troika tem uma concepção muito especial - acha que os culpados da crise em Portugal são os funcionários públicos e portanto exige ao Governo que malhe nos nossos funcionários públicos.

(...)

A coisa mais grave é a cedência do Governo da República Portuguesa a este conceito de ataque ao conceito público de serviço. Porque o que nós temos aqui é: de uma maneira cega há que despedir um número “x” gigantesco, e uma forma indirecta de o conseguir, que é esta questão da colocação na mobilidade - isto antigamente chamava-se quadro geral de adidos - e pedir isto a que governos sucessivos - não é a este, é a todo o governo - que se coloquem 30 000 pessoas num sítio onde durante anos e anos quer dizer… isto já estava previsto há muitos anos, só conseguiram pôr 1000... Portanto, o que significa que vai ser tudo feito de uma maneira totalmente irracional porque este é o mesmo governo que não sabe quais são as necessidades (penso que houve um conferência sobre a reforma do estado numa universidade qualquer e um nomeado, que por acaso até era do PS, por este governo, para qualquer lugar, nem sei bem especificar, disse que o problema estava no pessoal das cantinas outro nos contínuos - e portanto são estes palpites que marcam a acção de incompetência técnica total da parte do senhor ministro das finanças e da administração pública...

(...)

Se destruirmos no caminho o conceito de serviço público, com as boas experiências, em nome de alguém que é desconfiado, porque já declarou, como o primeiro-ministro que "infelizmente eu não sou funcionário público"...os principais ministros, parece que alguns são funcionários de organizações internacionais, mas não são funcionários públicos, portanto há aqui assim o desprezo total por alguma coisa que marcou - isto não foi nos últimos trinta anos, foi nos últimos séculos - uma existência racional normativa à nossa convivência como comunidade política

Excertos da entrevista do Professor José Adelino Maltez à Antena 1, hoje, AQUI. (os destaques são nossos)

***


Acrescentemos apenas que não nos parece que a adesão deste governo ao conceito de ataque ao serviço público se trate de uma “cedência” ou seja exclusivamente motivada por um elemento exógeno como a troika. O princípio ideológico e preconceituoso contra o funcionalismo público já fazia parte da matriz ideológica dos que agora encabeçam o Governo da República, mas que nunca encontraram antes condições favoráveis para o fazer vingar. As imposições da troika vieram apenas criar o ambiente favorável, e o pretexto, para que as tendências neoliberalizantes de uma ala ideológica do PSD e de alguns do CDS fossem descaradamente assumidas na (des)governação do país. É de neoliberalismo que se trata.

domingo, maio 05, 2013

Mãe



Aflige-se com a nossa aflição.

Contempla-nos como quem sente
Que seremos crianças para sempre.
Primeiro no ventre,
Depois no coração.

Quem nos governa?


Foi o Inverno do nosso descontentamento.
É já a Primavera do nosso descontentamento.
Será o Verão do nosso descontentamento.
E depois o Outono do nosso descontentamento.

(Sempre que ele aparece ao fim da tarde, vem semear descontentamento).

Que diabo! Ser descontente é ser homem, mas isto é demais.
Um ano de descontentamento! (mais um)
Um ano desconcertante.
Um desconcerto!
Um país desconcertado.

Triste fado!

Lembram-se da nossa longa história e quando foi assim?
Nunca foi assim! Nem Napoleão, nem Filipe II...
Sempre nos erguemos.

Que Portugal somos nós?
Para onde vamos?
(Não há ventos favoráveis para quem não sabe para onde vai.)
Para onde vamos?
Que mãos seguram o timão do nosso destino,
Que nas nossas mãos não está?

Quem nos governa?

sábado, maio 04, 2013

A servidão ou a partida

1/05/2013 - Manifestação contra o capitalismo, em Seattle, acaba em motim.


Vós que cegamente votastes nestes,
Sabeis agora o que o neoliberalismo é?
Sabeis agora que o Estado pode ser um instrumento da luta de classes?
Que uma vez conquistado para as classes dominantes, estas o usam para transferir a riqueza da base para o topo?
E uma vez conquistado pelas classes exploradas, estas o usam para transferir a riqueza do topo para a base?
Para subtrair riquezas outrora subtraídas.

De que vos queixais agora?
É a vez deles! Fostes vós que os colocastes lá.
Destes-lhes o pleno: um presidente, uma maioria parlamentar, um governo.
Que esperáveis?

Bem podeis aguardar que caiam por si. Não cairão!
Resta-vos a rua ou o desespero,
a servidão ou a partida.

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quinta-feira, maio 02, 2013

A Era do Mercado ou da Exploração



«O verdadeiro problema não é que o dinheiro possa levar as mulheres “de honra” e homens “de palavra” a fraquejar, como se diz. O escândalo começa, sim, quando, para funcionar, o dinheiro enquanto capital pressupõe sistematicamente a fraqueza de homens e mulheres que têm de se colocar no mercado. Eis o fundamento funcional-imoralista da economia industrial de mercado. Esta inclui sempre no seu cálculo o estado de necessidade dos mais fracos. Funda a circulação contínua do lucro na existência de grandes grupos que não têm praticamente outra opção senão “comer ou morrer”. A ordem económica capitalista assenta na possibilidade de espremer os que vivem constantemente em situações de excepção actuais ou virtuais, isto é, de espremer os seres humanos que terão fome amanhã se não trabalharem hoje, e que amanhã não terão trabalho, se não aquiescerem hoje ao que impudentemente se exige deles.»

Peter Sloterdijk (1983), Crítica da Razão Cínica, Relógio D’Água, 2011, p. 401

quarta-feira, maio 01, 2013

O trabalho no "maravilhoso mundo plano"

(Kevin Frayer/Associated Press)

Tem sido um ano duro para os trabalhadores e trabalhadoras, em particular nos países do Sul, onde o trabalho pode chegar a assumir características de escravatura e está, por isso, longe de ter qualquer função dignificadora. O trabalho só dignifica se não escravizar, nem explorar. Quando o salário é de 38 euros mensais, é de exploração e escravatura que falamos. Era esse o salário das operárias bengalis que morreram sob os escombros do prédio onde eram exploradas. Soubemo-lo hoje.

Enfim, é este o “maravilhoso mundo plano” de que nos falam os deslumbrados da globalização e do capitalismo.

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